sábado, 22 de outubro de 2011

História da teologia de santidade no Exército de Salvação


História da teologia de santidade no Exército de Salvação from Ildo Mello on Vimeo.
Palestra de Nelson Wakai sobre a história da teologia de santidade no contexto do Exército de Salvação
São Paulo, 21 de outubro de 2010

Notas para o encontro da Fraternidade Wesleyana de Santidade no Quartel Nacional do Exército de Salvação.

1) Nosso lugar no Movimento

Dentre as onze doutrinas fundamentais do Exército de Salvação internacional, a décima diz: “Cremos que é privilégio de todos os crentes serem santificados em tudo, e que seu espírito, alma e corpo podem ser conservados íntegros e irrepreensíveis até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (I Ts 5.23).”1

“Definir o Exército de Salvação como um 'movimento de santidade' dentro de uma família mais ampla é apropriado, dado seu compromisso claro ao que é chamada 'a doutrina da santidade' – que por sua vez pode ser chamada de 'a doutrina da possibilidade do viver santo.”2


2) O lugar do ensino de santidade em nosso movimento

O Fundador disse: “Santidade ao Senhor é para nós uma verdade fundamental; ela é a principal das nossas doutrinas. Nós a escrevemos em nossas bandeiras. Não é uma questão discutível se Deus pode santificar completamente, ou se Jesus salva Seu povo dos seus pecados. Na avaliação da Missão Cristã isto está estabelecido para sempre, e qualquer evangelista que não mantiver firme ou proclamar a habilidade de Jesus em salvar seu povo do pecado e de pecar até o mais alto grau alcançável eu o consideraria fora de lugar entre nós.”3

William Booth sobre John Wesley:

“Há um só Deus e John Wesley é seu profeta”4. Booth via-se como seu herdeiro, crendo que:

“Em Wesley a ênfase católico-romana da vida cristã como um processo em direção a Deus e a ênfase protestante na crise são unidas de forma equilibrada.
Perfeição em Mt 5.48 “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.” significa cada crente ter amor perfeito, ter o mesmo ponto de vista de Deus, ter a mente de Cristo. A retidão de Cristo não apenas me cobre, é parte de mim, é dada a mim.”5

Um coração puro não é um coração que nunca é tentado a fazer o mal; não é um coração que não pode sofrer; não é um coração que não pode pecar; é uma experiência que acarreta em alegria, no desejo de ser útil e em poder; é necessária para o trabalho de redenção – somente um povo santo pode fazer um trabalho santo.”6

James Orr registra: “É certo que a grande obra cristã e humanitária de William Booth, originalmente um metodista, foi inspirada por esta doutrina que ele constantemente pregava. Esta capacitou seus seguidores nos primeiros anos do Exército de Salvação a suportarem as perseguições que recaíram sobre eles naquela época.”7
“A santificação legitimava o Exército de Salvação.”


3) No Brasil

Norio Yamakami comenta: “O Exército de Salvação, embora seja muito mais conhecido e respeitado no país pela sua ação social, tem exercido um papel importante na propagação da doutrina wesleyana de inteira Santificação. Foi esse grupo que apresentou aos evangélicos brasisleiros o livro Em Direção à Santidade, de Samuel Brengle8, uma obra considerada clássica, que apresenta em forma de mensagem devocional apaixonada (e não em forma de dissertação teológica com rigor acadêmico) o ensino característico do Movimento Holiness sobre a santidade prática do cristão.”9


4) Nosso entendimento da doutrina

“A liderança espiritual do Exército de Salvação... entende santidade como um assunto tanto de maturidade como de pureza junto a um continuum da graça de Deus...

Para alguns salvacionistas, a ênfase de Frederick Coutts na santidade como um processo é preferida em relação à forte orientação de Samuel Logan Brengle para a santidade como uma experiência de crise. Uma leitura mais cuidadosa de Coutts e Brengle revela seu foco mútuo em processo e crise, embora a ênfase possa diferir.

Encontramos essa discussão entre processo e crise viva e continuada entre os acadêmicos wesleyanos contemporâneos.

Eu gostaria de propor uma justaposição de processo e crise para dizer que a santidade pessoal é ambas e mais... A santidade pessoal é intimidade sustentada como jornada e encontro... nem todos os encontros são de purificação. Alguns encontros são de cura e reconciliação, alguns de purificação, enquanto outros são de compaixão.”10

“A bênção da santidade era corretamente vista como a aplicação da graça santificadora de Deus sobre a totalidade da personalidade de alguém... tem a ver com uma salvação que é 'plena' no sentido de ter aplicação em cada área da existência humana... ela tem aplicação para o todo da sociedade. Justiça social, comércio justo, o meio-ambiente, as artes, indústria, economia e similares são o foco de um povo santificado porque eles enxergam a obra redentora de Cristo como tendo aplicação para o todo da vida porque “tudo na vida é santo. Tudo na vida é um sinal visível da graça invisível de Deus.”11

Enquanto algumas formas de pietismo fogem de tal compromisso com o mundo, um povo cuja santidade toma sua disposição a partir de Cristo e sua encarnação vê o todo da sociedade como seu campo de missão.12

“Booth acreditava em salvação pessoal e salvação social. O ministério social do Exército de Salvação encaixa-se belamente na teologia ampliada da salvação de Booth. Seria um meio de reestruturar a sociedade e um meio de trazer todo o mundo aos pés de Jesus. Todas as estruturas da sociedade poderiam ser transformadas de maneira que poderiam dizer sim a Deus.”13

“Esta teologia que afirma o mundo representa uma compreensão distinta dentro da comunidade evangélica.” Enquanto fundamentalistas e dispensacionalistas vêm no arrebatamento para fora deste mundo a solução para os males, o Salvacionismo e o wesleyanismo demonstram um menor interesse no fim dos tempos e um interesse agudo em aplicar a mensagem de salvação à humanidade sofredora.” Booth era pós milenialista e cria no envolvimento pleno do cristianismo neste mundo.. Isso implicava em uma igreja muito ativa pois cabia a ela implantar o Reino de Cristo na terra.14 A agenda do Exército era ativista: não simplesmente a provisão de serviços, mas agitação para assegurar que os males sociais fossem remediados através da reforma social.15

A confiança de que Deus estava interessado neste mundo deu a missão seu sentido de urgência e relevância. Era um Reino tanto deste mundo como do vindouro. A promessa do mundo vindouro poderia ser demonstrada na transformação prática de indivíduos e e instituições aqui e agora.16

Booth representava o poder da religião comprometida com este mundo tanto quanto com o vindouro.17


5) Sua relevância para a era pós moderna

“O grande clamor do mundo é por senso renovado de esperança e otimismo, uma visão integtrada da criação e uma fome por significação pessoal. Booth oferecia uma visão da criação que era otimista e afirmava a vida; uma visão da salvação que abraçava o mundo, tanto espiritual como material; e um plano de campanha que foi localmente prático e proveu um senso de significado individual que era universalmente aplicável. Para que a religião funcione para as pessoas ela deve ser capaz de harmonizar sua fé com o mundo que experimentam – isto deve nos prover um mapa confiável.”18


6) Nossa busca

“O que faz uma denominação um 'movimento de santidade' é entretanto mais do que assinar embaixo da doutrina. A santidade é um padrão a ser observado pelos membros desse movimento. Mais que isso, é uma experiência conhecida em suas vidas.”19

“Minha observação é que, comparados aos cristãos de outros movimentos de 'santidade', os salvacionistas frequentemente parecem não estar conscientes que a doutrina de inteira santificação é central às crenças de seu movimento, ou, de fato que é parte dessas crenças.

Muitos de nós que somos baby boomers20 ou ainda mais velhos, nos tornamos soldados com pouco ou nenhum ensino sobre essa doutrina... Em maneiras significativas o salvacionismo tem experimentado uma renovação nos anos recentes e está mais saudável espiritualmente hoje do que há cinquenta anos atrás, particularmente entre os seus jovens... há um despertamento genuíno entre os salvacionistas e em muitos lugares um desejo para ver a doutrina da santidade ensinada21... Ao mesmo tempo, a vida espiritual do movimento está sendo conduzida a diferentes direções. Há em alguns quadrantes expressões de adoração e ensinos sobre 'espiritualidade' que remontam ao catolicismo... em outro extremo há, em muitos lugares, um abraçar das coisas pentecostais.”22


7) Novos ventos estão soprando

“Nós estamos testemunhando um renascimento de escritos e academia wesleyanos”23
Contribuímos nas equipes das Reflecting God Study Bible e Wesley Study Bible.

No salvacionismo mundial “Emergiu em tempos recentes uma forte consciência social que está buscando responder os assuntos de justiça. Ao mesmo tempo há um interesse renovado na doutrina de santidade - uma vida vista geralmente como semelhança com Cristo através do poder do Espírito... O desafio é afirmar e abraçar as duas e assegurar que sejam plenamente integradas para que a experiência do amor perfeito se torne a força motriz para a consciência social.”24


8) Nossa responsabilidade e oportunidade

“Os sucessores de John Wesley foram criticados por não desenvolverem a doutrina de seu líder... 'havia uma doutrina de John Wesley – a doutrina da perfeita santificação – que deveria ser levada a um desenvolvimento ético grande e original; mas a doutrina não cresceu, parece que ela está onde Wesley a deixou.
Há uma falta de gênio ou coragem para tentar a solução das imensas questões práticas que a doutrina sugere. As questões não foram levantadas – muito menos resolvidas. Suscitá-las efetivamente, de fato poderia originar uma revolução que poderia ter tido um efeito mais profundo sobre o pensamento e a vida, primeiro da Inglaterra, e então do resto da cristandade – do que foi produzida pela Reforma no século XVI.”25


Notas:

1Exército de Salvação, História da Salvação, 1998, p. 81.

2Alan Harley, Word & Deed, Maio de 2009, p. 5 ss.

3A Return to Holiness em Word and Deed, Novembro de 2003, p. 1, Editorial, Jonathan Raymond e Roger Green, citando o Fundador.

4 Dr. Roger Green, PhD. CD 1 Faixa 6.

5 Dr. Roger Green, PhD. CD 1 Faixa 7.

6Roger Green, Volume 7 Faixa 1 IV.B.4.

7ISBE, James Orr, 1939, verbete sobre santificação.

8Word and Deed, Novembro 2003, R. David Rightmire, sobre Brengle.: “Igualmente importante para sua influência como professor de santidade, entretanto foi seu compromisso vitalício com o evangelismo de santidade. 'Ganhar almas' estava diretamente relacionado à sua preocupação em levar as pessoas à experiência da inteira santificação, acreditando que a santidade era o objetivo final da salvação... Enfatizando a necessidade de reavivamento na igreja, confrontou as condições e impedimentos para este, considerando o evangelismo em última instãncia como um meio para transformação pessoal e social

9Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã, Walter Elwell, Volume II, abril de 1990, verbete Movimento de Santidade (Holiness) no Brasil.

10Jonathan Raymond em Word & Deed, Primavera de 2001, p. 24.

11Roger Green, CD 12 faixa 1.

12Alan Harley, Word & Deed, Maio de 2009, p. 13.

13Roger Green Volume 4 Faixa 1 – II.D.2.

14 Dr. Roger Green, PhD. Volume 4 Faixa III.A.

15Boundless Salvation, An Historical Perspective on the Theology of Salvationist Mission, John Cleary, Australia, Sixth Draft, p. 43.

16Boundless Salvation, An Historical Perspective on the Theology of Salvationist Mission, John Cleary, Australia, Sixth Draft, p. 44.

17Boundless Salvation, An Historical Perspective on the Theology of Salvationist Mission, John Cleary, Australia, Sixth Draft, p. 46.

18Boundless Salvation, An Historical Perspective on the Theology of Salvationist Mission, John Cleary, Australia, Sixth Draft, p. 73.

19Alan Harley, Word & Deed, Maio de 2009, p. 5.
20Nascidos entre 1946 a 1964.

21Negrito e sublinhado acrescido pelo compilador deste trabalho.

22Alan Harley, Word & Deed, Maio de 2009, p. 10.

23Alan Harley, Word & Deed, Maio de 2009, p. 12.

24Alan Harley, Word & Deed, Maio de 2009, p. 15.

25R.W. Dale, Congregacional em fala aos líderes e povo das Igrejas Livres Britânicas em 27 de julho de 1879.

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