sábado, 22 de outubro de 2011

Resultados dos Pecados dos Crentes (Lv 13.44-46)


Resultados dos Pecados dos Crentes (Lv 13.44-46)

Por Bispo José Ildo Swartele de Mello

Na antiguidade, a lepra, doença hoje denominada hanseníase, era considerada um símbolo da impureza do pecado, possivelmente devido ser uma doença degenerativa que produz feridas visíveis na pele, que podem chegar a ter uma aparência repulsiva. Além disto, a lepra é contagiosa. Hoje, sabemos que o seu potencial de contagio é baixo, mas, antigamente, as pessoas ignoravam este fato e temiam muito serem contagiadas, de modo que os leprosos eram discriminados e tinham de viver completamente isolados da sociedade.

Jesus teve muita compaixão dos leprosos, tanto que ele contrariou a tradição e se aproximou deles para tocá-los e também curá-los (Mt 8.1- 4; Lc 17.11-19). Jesus ainda contou uma parábola que tem como herói o humilde e desprezado Lázaro, que tinha lepra (Lc 16.19-31). Mostrando como aqueles que são considerados últimos aos olhos dos homens podem vir a ser os primeiros aos olhos de Deus (Lc 13.30). "Felizes os que choram porque serão consolados" (Mt 5.4). Que grande revolução!

Nos capítulos 13 e 14 de Levítico vemos como os sacerdotes lidavam com a questão da lepra. Há até um ritual de purificação da lepra que muito se assemelha ao ritual de purificação do pecado. Tanto o leproso como o pecador eram considerados imundos na antiguidade. De fato, existem similaridades entre a ação da doença e a ação do pecado, pois ambas produzem lesões e deformações, ambas chegam a ser repulsivas, ambas são destruidoras e contagiosas. Além disto, há também as consequências de ordem social, pois tanto a enfermidade física como a espiritual podem levar o indivíduo à uma espécie de isolamento social. Graças a Deus, hoje já existe cura para lepra e também para o pecado!

O autor de Hebreus afirma que os rituais levíticos servem como analogias da salvação e são uma parábola para a era cristã (Hb 8.5; 9.9). Por isto mesmo foi que o João Batista, ao ver a Jesus, exclamou: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).

Examinando Levítico 13.44-46, podemos, por analogia, extrair as seguintes lições a respeito da ação e das graves consequências do pecado na vida humana:

É interessante notar que o sacerdote encontrou a ferida na cabeça (v. 44), e o pecado também está na cabeça. Aliás, ele sempre começa com um pensamento. A cobiça gera o pecado (Tg 1.14 e 15).

Assim como a ferida, o pecado também começa como algo pequeno e de aparência inofensiva. Um vício, por exemplo, pode parecer algo inofensivo à princípio, mas costuma converter-se em algo cruel e danoso mais adiante. É bem mais fácil parar no começo. O melhor seria nem ter começado, pois estas coisas escravizam e provocam muita destruição. Destruição da saúde, destruição de carreiras, destruição de relacionamentos, destruição da família, destruição da própria vida.

Com o pecado não se deve brincar (Gl 6.7). Com o Diabo não se deve negociar. Não siga o exemplo de Balaão. Não dê guarida a tentação e nem dê de comer a ela (Nm 22.8 e 19). Jamais devemos tratar o pecado com estima, pois não se deve ter uma sucuri como animal de estimação. Não é sábio alimentá-la para que ela cresça enrolada em você. Não pense que você tem controle sobre ela, pois, com o tempo, ela se tornará maior e mais forte que você. Abra os olhos antes que seja tarde demais!

Levítico foi escrito para a comunidade do povo de Deus. Vemos aqui, no capítulo 13, as consequências daquela enfermidade sobre os membros da família da fé que eram afetados por ela. Ela representava uma ameaça a sobrevivência de toda a comunidade.

Primeiramente, é dito que as vestes dos contaminados eram rasgadas e que seus cabelos eram despenteados (v. 45). Os vestidos eram rasgados para que as chagas fossem expostas. O que era uma ferida oculta, agora torna-se pública. Não há nada oculto que não venha a ser revelado (Mt 10.26). O teu pecado te encontrará (Nm 32.23 e Gl 6.7). O pecado realmente denigre a imagem do homem, comprometendo sua honra e sua reputação moral. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26). O diabo, então, surgiu com a intenção de matar, roubar e destruir (Jo 10.10). "O salário do pecado é a morte" (Rm 6.23). Mas, a boa notícia é que Jesus veio para desfazer as obras do diabo (1 Jo 3.8). Jesus veio para nos dar vida abundante (Jo 10.10)! Jesus salva e restaura o homem (Tt 3.5). Jesus encontrou o endemoninhado gadareno, no fundo do poço, andando como um louco completamente nu, sem nenhum senso de dignidade própria, angustiado e arrasado. Tal homem era também desprezado por todos e vivia no deserto, isolado da sociedade. Mas, com uma só palavra, Jesus o libertou de uma legião de demônios! Jesus lhe restaurou o juízo, a honra e a paz! O homem, agora, era visto ao lado de Cristo, sentado, vestido e em perfeito juízo (Mc 5.20)!

O segundo resultado é que a boca é tapada (v. 45). O pecado tapa a boca do crente para que ele não evangelize. O pecado inibe o nosso testemunho cristão. O pecado nos intimida, abalando a nossa autoridade espiritual. Certa vez, um querido irmão, crente jovem e fervoroso, acabou descuidando da vigilância e foi seduzido por uma tentação. E, logo a seguir, em seu caminho para o trabalho, ele se depara com uma pessoa endemoninhada que se estrebuchava no chão do centro da cidade de São Paulo. E, no meio da multidão que a rodeava, um pessoa gritou, precisamos de alguém que saiba orar! E lá estava o meu irmão que sabia orar, mas que, agora, se via com a boca tapada pelo pecado. Triste e cabisbaixo, ele seguiu seu caminho para o trabalho deixando para trás aquela mulher em sua agonia espiritual. Ao chegar ao escritório, ele dobrou os joelhos e chorou arrependido aos pés do Senhor, clamando por misericórdia. Levantou-se, então, perdoado, refeito e cheio de confiança no Senhor, e correu ao encontro daquela mulher que estava possessa, mas, chegando ao local, notou que ela já não estava mais ali. Ele nunca soube o que aconteceu a ela. A duras penas, ele aprendeu a lição de que o pecado é capaz de tapar a boca do crente, impedindo que ele possa ser uma fiel testemunha de Cristo.

O terceiro resultado é que o contaminado começa a clamar: "imundo, imundo" (v.45). A primeira coisa que um desviado da fé costuma fazer é clamar: imundo. Mas, como assim? Bem, ainda que não de uma forma literal, não é difícil ver crentes desviados procurando maneiras de deixar claro para todos que eles não pertencem mais a Igreja. Eles querem também que todos saibam que, agora, eles estão desimpedidos para o pecado. Passam a falar palavrões, vestem-se com roupas vulgares e agem de maneira leviana. Passam a frequentar ambientes onde predominam os vícios, as extravagâncias e as paixões carnais. Adotam um estilo de vida contrário aos ensinos de Jesus. Tais apóstatas estão como que clamando: "imundo, imundo", anunciando para todo mundo o seu rompimento com a santidade de Deus. O seu estado passa a ser pior que o anterior à sua conversão (Lc 11.24-26).

O quarto resultado é que o individuo contaminado pela chaga acabava tendo que habitar só (v. 46). O pecado produz solidão. O egoísmo gera desconfiança, ciúmes, inveja, infidelidade, mentiras, fofocas, disputas, ódio, rancor, inimizades, violência, falta de amor e de perdão. O sujeito tanto apronta que acaba  ficando só no final das contas.

O quinto resultado é que o contaminado passa a viver "fora do arraial” (v.47). Arraial, aqui, significa a comunidade do povo de Deus. O pecado afasta o indivíduo de Deus e do seu povo. Afasta o Filho Pródigo para longe da casa do Pai (Lc 15) e do aconchego da santa mesa da comunhão com o Senhor. Só o arrependimento o pode trazer de volta! O contaminado já não é mais capaz de cantar como o salmista: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos a casa do Senhor”. Para ele, deixaram de ser amáveis os tabernáculos do Senhor dos Exércitos, pois sua alma já não mais suspira e nem desfalece pelos átrios do Senhor e sua carne já não clama mais pelo Deus vivo. O contaminado prefere agora estar nas tendas da perversidade do que está na casa de Deus (Sl 84).

Assim diz o autor de Hebreus (10.25) - “Não deixemos de congregar-nos como é costume de alguns”. A igreja não é perfeita, pois há joio no meio do trigo (Mt 13.24-30) e há também muitos crentes imaturos (1 Co 3.1). Até entre os doze Apóstolos havia um traidor. Há muitos escândalos (Mt 18.7), muitas pedras de tropeço (Mt 18.6), muitos espantalhos da fé, muitos mercenários (2 Pe 2.15), muitos falsos profetas (1 Jo 4.1) e muitos falsos apóstolos (Ap 2.2). Mas, mesmo assim, não desista da Igreja, pois, a despeito dos "iscariotes", ainda se pode ver muitos "pedros", "tiagos" e "joãos"! A despeito do joio, há muito trigo! Jesus instituiu a Igreja e disse que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela (Mt 16.18). Jesus é o cabeça da Igreja (Ef 5.23). Ele se entrega em favor da purificação de sua Igreja (Ef 5.26 e 27). Jesus entregou uma grande missão a sua amada Igreja (Mt 28.18-20). Ele retornará para ser glorificado pela Igreja (2 Ts 1.10). Ame a Igreja de Cristo e trabalhe em favor de sua linda missão. Não desista da Igreja e nem deixe de congregar. Pois Jesus se manifesta de modo especial aos que se reúnem em seu nome (Mt 18.20). E é na congregação dos santos que o Senhor ordena  a vida e a bênção para sempre (Sl 133). Ser batizado em Cristo e também ser batizado em seu Corpo que é a Igreja. Jesus disse: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu e quem comer deste pão viverá". A Ceia do Senhor é uma celebração dos membros do Corpo de Cristo, que um verdadeiro cristão não pode prescindir. Portanto, jamais deixe de congregar!

Mas há esperança para o enfermo. Pois, o mal não tem há última palavra. O ritual de purificação do leproso se dava através do sacrifício de duas aves e de um cordeiro (14.4,13), cujo sangue era derramado e aspergido sobre o indivíduo (14.7). O sangue do cordeiro era aplicado também “sobre a ponta da orelha, o polegar da mão direita e do pé direito” (14.14) “azeite sobre a cabeça” (14.18). Isto representa uma purificação completa de todo o corpo. Ouvidos estão sendo purificados para ouvir o que o Espírito diz à Igreja; as mãos estão sendo purificadas para a obra de Deus; os pés estão sendo purificados e preparados para o caminho da justiça e a cabeça está sendo ungida para que a mente seja renovada (Rm 12.1 e 2) e que todo pensamento seja levado cativo à obediência de Cristo (2 Co 10.5 e Fl 4.8).

Fazendo menção aos rituais de purificação do Levítico, o autor de Hebreus estabelece a seguinte analogia: "Porque, se a aspersão do sangue de bodes e de touros, e das cinzas duma novilha santifica os contaminados, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará das obras mortas a vossa consciência, para servirdes ao Deus vivo? (Hb 9.13-14). Por isto mesmo é que João nos diz que "se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça" (1 Jo 1.9). Portanto, "tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência, e o corpo lavado com água limpa...não abandonando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia." (Hb 10.22 e 25).

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