sábado, 22 de outubro de 2011

Laodicéia, a sétima igreja do Apocalipse

Meditando na carta de Jesus para a igreja de Laodiceia (Ap 3.14.21), a última das Sete Cartas do Apocalipse, observa-se que esta é a única igreja que apenas recebe reprimendas de Cristo. Jesus, cabeça da Igreja, conhece bem cada uma de suas igrejas. Ele exalta a virtude e recrimina o pecado. Mas, aqui, ele nada viu que fosse digno de apreço.

A igreja estava numa cidade muito próspera, que era conhecida por seus avanços no campo da medicina, a ponto de elaborar um famoso colírio e Laodiceia também era afamada pela fabricação de tecidos finos. Mas, em vez de influenciar a cidade, a igreja é que estava sendo influenciada por ela. O apego as coisas materiais e sua confiança nas riquezas, na medicina e na glória efêmera deste mundo haviam cegado os membros da igreja, provocando a perda da santidade e do fervor espiritual. “Não vos conformeis com este século” (Rm 12.2) e “não ameis o mundo e nem aquilo que há no mundo” (1 Jo 2.15).

Havia uma diferença gritante na maneira como os crentes daquela igreja enxergavam a si mesmos e como Jesus os via. Enquanto eles se consideravam abençoados a ponto de nem sequer dependerem mais de Deus (3.17), Jesus os via como carnais, pobres, cegos e nus. Mas, por sua misericórdia, Jesus ainda não desistiu deles, e, graciosamente (Is 55.1), lhes oferece ouro imperecível para sua verdadeira riqueza, colírio para abrir seus olhos espirituais e vestimentas verdadeiramente gloriosas para cobrir a vergonha da nudez deles (3.18).

Como um pai disciplina o filho que ama, Jesus está disciplinando a igreja no intuito de corrigi-la (3.19). Jesus também é claro a respeito do risco que os crentes estão correndo se persistirem naquela mesma condição espiritual. Sem fervor não dá! É melhor ser frio logo duma vez, pois o morno engana a si mesmo e também engana os outros. O morno acaba fazendo escola, ou seja, acaba influenciando negativamente os demais. Jesus mesmo exortou que o nosso falar deveria ser: "sim, sim ou não, não" (Mt 5.37)! Nada de mais ou menos! Nada de ficar em cima do muro! E, em outra ocasião, Jesus afirmou: "Quem comigo não ajunta, espalha" (Mt 12.30). Ou é ou não é! Ou somos ou não somos seus seguidores (Jo 12.42)!

Jesus deseja que sua igreja seja fervorosa. Mas fervor não deve ser confundido com fanatismo ou emocionalismo irracional que promove histeria coletiva. O culto precisa ser racional (Rm 12.1), os crentes maduros não devem raciocinar como crianças (1 Co 14.20), devem julgar cuidadosamente as profecias (1 Co 14.29), não devem crer em qualquer um que se diz cheio do Espírito Santo, mas, antes, devem provar os espíritos para saber se de fato procedem de Deus (1 Jo 4.1) e nem podem agir como loucos falando em línguas todos ao mesmo tempo (1 Co 14.23) pois Deus não é Deus de desordem (1 Co 14.33), portanto, tudo deve ser feito com ordem e decência" (1 Co 14.40). E cuidado com fogo estranho (Lv 10.1)!

Crentes mornos provocavam náuseas em Deus e estão prestes a serem vomitados (3.16). No entanto, mesmo nesta dura frase, vemos um sinal de esperança, porque só pode ser vomitado aquilo que está dentro. Portanto, notamos que aqueles crentes ainda estavam em Cristo, mas, como lemos mais adiante, Cristo não estava necessariamente dentro deles, pois é descrito como estando do lado de fora da igreja batendo à porta, procurando entrar, o que também é um forte sinal de sua compaixão.

Sendo assim, podemos estar em Cristo, mas pode ser que Cristo não esteja em nós. Algo parecido com o que Jesus diz em João 15: "Eu sou a videira verdadeira... todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, é cortado e lançado fora". Os ramos infrutíferos podem até estar na árvore, mas estão enfermos, porque, por alguma razão, a seiva da árvore não está chegando a eles, por isto não estão produzindo os devidos frutos, razão porque estão prestes a serem descartados. Assim também acontece com o sal quando se torna insípido (Mt 5.13).

Nossa vitalidade e entusiasmo espiritual vem de nosso relacionamento com Cristo. Como os ramos precisam da seiva para terem vida, nós também precisamos da seiva da Videira Verdadeira que é Jesus. Ele é o nosso Pão Vivo! Verdadeiro alimento para as nossas almas! Jesus não pode ficar do lado de fora e nem na periferia de nossa existência. Jesus deve estar dentro de nossos corações, no centro de nossas vidas, governando nossos passos, para que sempre possamos dizer como Paulo: "Não mais eu, mas Cristo vive em mim" (Gl 2.20).

"Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (3.22)!


Bispo José Ildo Swartele de Mello

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