sábado, 22 de outubro de 2011

O líder cristão, um humilde servo



A cultura contemporânea despreza o frágil, o dependente e gosta dos que se mostram fortes, competentes e autossuficientes. Isto favorece os espertalhões que são capazes de esconder suas fraquezas, manipulando para exercerem o controle e receberem maior reconhecimento. Mas não é assim no Reino de Deus, onde “os primeiros tornam-se os últimos e os últimos, primeiros” (Mt 20.16). Jesus escolheu os pequeninos (Mt 11.26), sim, Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são (1 Co 1.28). Os primeiros no Reino são os que seguem o exemplo do Mestre, que veio para servir e não para ser servido (Mt 10.45), e que assumiu a humilde condição de servo ao lavar os pés dos próprios discípulos (Jo 13.12).

Moisés, Isaías e Jeremias sentiram-se pequenos e inaptos para o ministério a que foram chamados. E não podemos nos esquecer que Davi era o último da casa de seu pai quando foi escolhido para ser o rei de Israel. João Batista rejeitou a autopromoção, a histeria e o exibicionismo, pois não gritava nas praças buscando chamar a atenção para si, pelo contrário, João Batista disse que convinha que ele próprio diminuísse para que Cristo crescesse. Renúncia e sofrimento fazem parte do chamado dos discípulos que devem carregar a cruz à semelhança do Mestre (Lc 9.23).


O líder cristão não deve se comportar como dominador do rebanho, mas deve guiar, inspirar e influenciar pelo exemplo (1 Pe 5:2-3). Deve lembrar que o próprio Rei Jesus entrou em Jerusalém de maneira humilde e mansa, montado em um jumentinho (Mt 21.5). “Nem por força e nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6). Portanto, a entrega humilde e amorosa de nossas vidas ao serviço do próximo deve caracterizar a vida de todos os líderes cristãos.

O líder cristão é alguém que sabe lidar com as outras pessoas não no nível "eu sou superior a você, pois sou seu líder", mas no nível "sou seu servo, conte comigo". Tornando-se, assim, uma pessoa acessível aos outros, pois ele segue o exemplo de Jesus, que cativava as pessoas, que sempre queriam estar junto a si.

Um líder verdadeiramente cristão não tem o desejo de liderar, mas é pressionado a aceitar uma posição de liderança pelo chamado interno do Espírito Santo e pela pressão das circunstâncias externas. Pois aquele que tem a ambição de liderar está desqualificado para ser líder. O verdadeiro líder cristão não tem o mínimo desejo de mandar na herança de Deus, mas é humilde, gentil, possui espírito sacrificial, pronto para liderar como para ser liderado, quando se deparar com alguém mais capacitado que ele ou em posição de comando. Pois, só quem sabe ser submisso, pode também liderar com excelência.

Líderes seguros delegam poderes aos outros. O bom líder deve encontrar líderes e desenvolvê-los, dando-lhes recursos, autoridade e responsabilidade, e depois garantir-lhes liberdade para agir. Pois, a capacidade de realizar está ligada a capacidade de delegar poder. Muitos líderes não delegam poder por medo de perder o cargo para o outro, reflexo de sua baixa autoestima e da falta de confiança em Deus.

Henri J.M. Nouwen chama a atenção para a grande tentação que acomete os líderes cristãos: o desejo de ser espetacular e causar impacto. Ser relevante, notado, referido, popular, destacado, bombástico, “o melhor”. Tem gente que busca a liderança como instrumento de autopromoção e que só participa ativa e dedicadamente de algo que lhe traga reconhecimento e honra. São do tipo de pessoas que "não colocam azeitona na empada de ninguém". Tais pessoas estão muito longe dos bem-aventurados pobres de espírito (Mt 5). Muito longe de Jesus, que jamais perseguiu a fama, pelo contrário, vivia fugindo dela. Tais cristãos precisam dar ouvidos a exortação do Apóstolo Paulo que disse: “Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por humildade, considerando os outros superiores a si mesmo... Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2:3-8). Grande coisas acontecem na Igreja quando ninguém se importa com quem vai levar a fama! Quando consideramos os outros superiores a nós mesmos e nutrimos o espírito humilde de Cristo!

Levou um dia para tirar o povo do Egito, mas quarenta anos para tirar o Egito do Povo. O capítulo nove de Lucas revela que os discípulos, por vezes, manifestaram o espírito deste mundo: “pediram para descer fogo do céu” (v.54). Jesus repreende perguntando “não sabeis de que espírito sois?” (v. 55). Os discípulos estavam agindo como agem os do mundo procurando destruir e eliminar os que fazem oposição, pois queriam impedir que alguém continuasse a pregar e a expulsar demônios somente por que não fazia parte do mesmo do grupo deles (v. 49). E, os discípulos, imaturos, ainda disputaram por posições (v. 46).

Os discípulos também procuravam se esquivar do tema da cruz. Jesus falava da cruz (Lc 9.44) e eles ignoravam o tema e logo mudavam de assunto inquirindo e disputando sobre algo que lhes parecia bem mais interessante, ou seja: “qual de nós será o maior no Teu Reino?” ( Lc 9.45 e 46). Os discípulos tinham uma concepção do Messias apenas em termos do Rei vencedor, que restauraria o Reino a Israel. Criam que ele se manifestaria ao mundo com grande poder e glória ainda naqueles dias e não podiam pressupor um caminho de cruz, sofrimento, humilhação e rejeição nem sequer como estágio para o estabelecimento do seu Reino. Sentiam-se prontos para reinar com Cristo, mas tinham que aprender a ser menores como uma criança, pois o menor é que é de fato o maior, e também deveriam aprender a servir como servos de todos. (Lc 9.47-48). Em 1 Coríntios 1, vemos algo semelhante acontecendo só que no sentido inverso, ou seja, havia disputa entre os coríntios sobre quem seria o maior dos apóstolos, quem seria o melhor dos cristãos e qual grupo era o mais cristão de todos. Paulo responde a esta disputa que inclusive incluía o seu nome, dizendo que ele nunca quis um lugar de destaque e que ele só quis saber de Cristo e este crucificado. Paulo critica a sabedoria deste mundo que é míope para ver o poder e a sabedoria de Deus que se revelam na “fraqueza” da cruz.


Fomos enviados por Cristo ao mundo como Cristo mesmo foi enviado pelo Pai (Jo 17.11-18). “Para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5.15). A Vida é o que de melhor alguém pode dar a seu semelhante. Pois, "quem não sacrifica nada não ama. Quem sacrifica pouco ama pouco. Quem sacrifica tudo ama totalmente" (Monier Vinard). Perguntaram a William Booth, fundador do Exército de Salvação, qual era o segredo da grandeza de seu ministério, ele respondeu: "Deus teve de mim tudo o que Ele quis". Infelizmente os evangélicos seduzidos pelo consumismo têm feito o contrário: exigem de Deus tudo o que eles querem.


Jesus passou pelo deserto antes do início de seu ministério (Mc 1.12). Elias (1Rs 17.3) e Moisés (Êxodo) também. Paulo foi para o deserto (Gl 1.17). Temos muito a aprender sobre deserto na vida dos servos de Deus. Cruz e deserto estão em sintonia, são sinônimos. O estilo de liderança de Jesus foi marcado pela cruz, pelo deserto, pelo burrinho, pelo balde e a toalha (Jo 13.12). Sendo Senhor, foi humilde e assumiu a condição de servo. Não foi dominador, mas procurou cativar pelo amor, pela graça e pelo exemplo. Não constrangeu os seguidores pela força, deixando-os sempre livres para escolher e até mesmo desistir (Jo 6.67). Seu estilo de liderança nada tem a ver com o estilo de governar deste mundo, sendo, de fato, um estilo às avessas do padrão comum de autoridade mundana que se impõe pela força. Tal estilo deve caracterizar a vida de todos os verdadeiros líderes cristãos.

Bispo José Ildo Swartele de Mello
metodistalivre.org.br
O Líder Cristão, um humilde servo

Nenhum comentário:

Postar um comentário